Já eram cinco
horas da tarde e seu José estava ainda com duas fileiras de tijolos para
completar o muro que começou pela manhã, dona Raquel estava com cinco cestos de
verdura para guardar em seu deposito na feira, André ainda tinha uma fila de
clientes estressados em seus carros para atender no posto de gasolina. O que
eles têm em comum? É que ambos se inscreveram no programa de educação de jovens
e adultos do governo Brasileiro, na escola de seu bairro e hoje é o primeiro
dia de aula deles. Todos três estão bastante ansiosos, encantados com o novo
ambiente, imaginam diferentes maneiras de como será a aula, se emocionam por
pensar que estão tendo uma oportunidade de ouro nas suas vidas, tendo em vista
as privações que a vida lhes causou ao longo de seus anos. Dever secular
cumprido é hora de ir à escola, um frio na barriga, um tremor incontrolável nas
pernas, uma aceleração no coração, que vergonha tão grande de finalmente chegar
à escola depois de tanto tempo. As expectativas são muitas, porém ao chegar à
sala de aula, doce ilusão, o que parecia ser instigante, indescritível e
inesperável se tornou exaustivo, estressante e sem graça. Somadas ao cansaço da
labuta, as palavras do conto de fadas contido no livro didático lidas sem
ênfase pela professora se perdiam em meio ao sono desses alunos. Frases sem
sentido, cálculos sem contextualização, informações fragmentadas que não tinha
em nada haver com o mundo a que eles pertenciam, cochilos foram inevitáveis,
fim da aula, fim do dia, que decepção. Mais um dia se apresenta com seus
desafios para cada um desses alunos, só que agora é diferente o coração já não
palpita mais, não há ansiedade, existe a falta de coragem de voltar aquele
lugar que parece que de forma alguma foi feito para eles, destes três alunos
apenas dona Raquel resolveu voltar à escola e continuar na esperança de algo
interessante poder aprender. De acordo com o senso brasileiro do ministério da
educação a cada três alunos do programa de educação de jovens e adultos ( EJA )
apenas um continua no programa até o fim. José Manuel Moran Especialista em mudanças na educação pela USP em sua pesquisa
aponta, para o fato de que, a escola ao se manter como instancia isolada para alem
da sociedade e restringir-se apenas a transmissão de conteúdos independentes,
sem contextualização com a realidade, valorização dos conhecimentos prévios dos
alunos e interação no processo de ensino-aprendizagem, faz com que esses alunos
acabem não vendo sentido na escola, nem no que tem no cotidiano escolar e prefiram
abandonar este ambiente por sofrer o chamado desencanto escolar.
Flavia Etiane Soares Nunes
Campina Grande 26 de Julho de 2013